Detenção do artilheiro do Flamengo questiona status do jogador
O atacante Gabriel Barbosa, o Gabigol, sem dúvida alguma é o jogador que mais atrai a atenção dos torcedores, em especial dos mais jovens e das crianças, no atual time do Flamengo. Não só pelos gols decisivos que marca, mas também por seu comportamento em campo e pela interação com o público, diretamente no atendimento ao torcedor mirim, e indiretamente, com produtos que vendem a marca dele.
Mas, domingo passado (14), Gabigol foi detido pela polícia de São Paulo por estar em um evento, com aglomeração, num local clandestino. Em meio à pandemia, o jogador driblou as normas de segurança sanitária e não respeitou as vítimas da covid e as famílias, muitas delas, certamente, que o têm como referência.
E aí começou a discussão. Como pode um ídolo ter essa postura? Ou ainda, Gabigol pode ser chamado de ídolo? Mais: se Gabigol é ídolo, estamos carentes deles no Brasil?
Vou responder de antemão: Gabigol não é meu ídolo, mas pode, sim, ser visto como tal. E não estamos carentes de outros por aqui. Há muitos, com surgimento facilitado pela globalização da informação e pelo acesso ao que se faz a cada segundo em torno do mundo. Mas, como ídolo, não poderia estar onde estava.
Quem é o seu ídolo? E não vamos pensar nos familiares e amigos mais queridos, porque, sim, também temos ídolos nessas esferas de relacionamento. Mas eu digo no Esporte. Com certeza você tem um, e muito provavelmente ele já deu uma “escorregada” ou tem algo de negativo em sua trajetória que o faz imperfeito. Aliás, como todos nós somos, inclusive os que hoje negam esse status a Gabigol. Só que nosso ídolo costuma ser perfeito, e essa idolatria nos faz ver apenas o que há de positivo, valorizando alguns aspectos e esquecendo de outros.
A palavra “ídolo” vem do latim idolum, do grego eídolon, e significa imagem. Que costuma ser criada a partir das realizações e conquistas de quem busca a idolatria. É evidente que a mídia ajuda nessa formação, ao reforçar o vínculo entre um jogador e a torcida. O curioso são os casos em que, de tantos feitos importantes, o ídolo ganha essa distinção antes mesmo de vestir a camisa de um clube – e aí estão as apresentações de jogadores que lotaram estádios de futebol por fãs apaixonados. Mas voltando ao Gabigol, carismático e vencedor nessa passagem pelo Flamengo, qual criança já não o imitou na comemoração de um gol; quantos jovens já pintaram e cortaram o cabelo como ele, para ficar mais parecido?
E é exatamente aqui que o erro de Gabigol se torna mais grave. Por ser essa referência, imitado, ele não tem o direito de dar um exemplo errado. Queira ou não, um ídolo deixa de ter vida pessoal como um cidadão comum e assume responsabilidades com o clube, a torcida e a imprensa. Não há como se desvincular desses três segmentos. E, até semana passada, Gabigol circulava muito bem nesse meio. Como artilheiro, tem direito a perder gols; como humano, a falhas. Como ídolo, deve prestar contas e cuidar melhor de sua imagem. Até porque, na velocidade atual da informação, mudar para outro patamar pode ser em menos tempo que os acréscimos de uma final de Copa Libertadores.