Neste ano, quatro jovens dos abrigos 12 de Outubro estão prestes a atingir a maior idade. As entidades contam também com o programa Novos Caminhos, do TJSC.
Há dois anos, quando teve que deixar o abrigo, a jovem mora sozinha, paga aluguel e faz planos de ascender profissionalmente. Mas a força de hoje foi conquistada aos poucos. No começo dessa nova fase, o sentimento era de medo, pois ela cresceu rodeada de amigos e protegida por assistentes sociais, mãe social e educadoras de um abrigo. Então não sabia como seria viver independente. Um conflito para quem chega à maior idade sem ser adotado e precisa deixar as casas de acolhimento.
“Sabia que não poderia desistir e bateu o desespero. Tenho dificuldades de leitura, não tinha noção de como lidar com documentos e contas e como ficar sozinha. Nos lares estava sempre cercada de muitas pessoas. Então aos poucos fui recebendo orientação, tive minha primeira conta em banco. Fiquei eufórica quando vi meu nome no cartão, quando consegui meu emprego, uma casa. Enfim, estou vivendo”, comemora.
A preparação para a autonomia é gradativa, como explica a psicóloga Moniqui Paola Petri de Matos, representante das Casas-Lares Fundação 12 de Outubro, que englobam três instituições de Joinville. A profissional detalha que a primeira fase do trabalho é realizada de forma individual entre o acolhido e uma equipe técnica. Nessa fase são identificadas e elaboradas ações práticas, como emissão de documentos e encaminhamentos para o mercado de trabalho, sempre com o objetivo de desenvolver condutas que visam a autossuficiência. “O segundo viés envolve o Projeto Trajetória, realizado em grupo entre jovens/adolescentes na faixa etária de 16 a 18 anos, com a participação de duas psicólogas voluntárias. O foco é acompanhá-los no processo de saída dos serviços de acolhimento, apoiando na transição para a fase adulta”, detalha.
A psicóloga enfatiza ainda que os jovens necessitam, além de orientação técnica, de apoio para lidar com as demandas da nova fase, que muitas vezes são intensificadas devido às sequelas da história de vida (violências, abandono, violações de direitos, negligência) e devida à ausência de vínculos afetivos familiares e comunitários. “Para o lado emocional temos o suporte também dos padrinhos afetivos, que caminham como referência familiar durante o processo”, declara.
Neste ano, quatro jovens dos abrigos 12 de Outubro estão prestes a atingir a maior idade. As entidades contam também com o programa Novos Caminhos, do TJSC. A iniciativa foca no atendimento de adolescentes acolhidos ou que estiveram em acolhimento, buscando a profissionalização e a autonomia dos jovens, unindo a teoria com a prática. “Consiste em uma importantíssima parceria entre o setor público e o privado, que ao longo de quase 10 anos de existência qualificou e empregou diversos adolescentes em situação de vulnerabilidade” descreve a juíza de direito da Vara da Família, Infância e Juventude, Idoso, Órfãos e Sucessões da comarca de Jaraguá do Sul, Daniela Fernandes Dias Morelli.
A magistrada destaca ainda que entre as últimas parcerias e avanços do programa, é possível citar oficinas e serviços ofertados pelo Sesi e Fesag, tais como oficinas de nutrição, de saúde mental e de esportes, e os atendimentos odontológicos, psicológicos e pedagógico, além da parceria com o programa Eu Voluntário, da Fiesc, e Empresa Amiga. “Ainda há muito o que ser feito, mas acredito que o foco deve ser sempre o de cada vez mais sensibilizar o empresariado para a necessidade de efetivação desses jovens no mercado de trabalho, garantindo-lhes oportunidades de autonomia e crescimento profissional dentro de seus ramos de atuação”, enfatiza.
E com o sentimento de buscar, aprender, progredir, a jovem que cresceu no abrigo hoje está ganhando o mundo e mesmo em meio a dificuldades traça planos: aos finais de semana visita o irmão, que continua protegido pelo Estado no lar de acolhimento, mas já iniciou o processo de adaptação. Em breve os dois estarão juntos novamente para reiniciar a família.