General Gonçalves Dias atribuiu a ação de entregar água ao major José Eduardo Natale, que está sob investigação, segundo o depoente à CPI
O general Marco Edson Gonçalves Dias afirmou que não serviu água para bolsonaristas que tentavam um golpe de Estado em 8 de janeiro nem foi conivente com a invasão aos prédios públicos. Durante depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos, em andamento na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), esta quinta-feira (22/6), o militar atribuiu a ação ao major José Eduardo Natale, que é investigado.
“Existe uma narrativa de que facilitei ou deixei por facilitar. Mas não servi água para ninguém. Aquela imagem do major servindo água foi gravada às 15h59. A minha, às 16h30. A defasagem dele dando água com a minha é de 30 minutos. Eu não estava junto dele. Não servi água, não fui conivente com o que estava acontecendo. […] Não mandei distribuir água. Esse procedimento do major José Eduardo Natale está sendo ouvido em um processo de sindicância que mandei instaurar. Isso vai ser apurado, e ele vai ser punido se tiver errado”, acrescentou Gonçalves Dias.
O depoente ainda se defendeu de outra acusação, de que teria fraudado documentos. A suspeita surgiu após uma reportagem da colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo, apontar falsificação de relatórios enviados à Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência (CCAI) do Congresso Nacional, a fim de ocultar que o então chefe do GSI teria recebido comunicados no celular com alertas sobre o risco das manifestações de 8 de janeiro.
Gonçalves Dias declarou haver um arquivo da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que “não condizia com a verdade”. “Não adulterei nem fraudei nenhum documento. Temos dois casos que devem ser separados. A CCAI solicitou ao GSI o que a Abin tinha produzido de informação. A Abin respondeu com um copilado de mensagens de aplicativo em que tinha dia, tempo, […], o acontecido e […] difusão”, detalhou.
Ainda nesse documento, segundo o general G. Dias, havia uma coluna com a indicação “ministro do GSI”.
“Mas eu não participei de nenhum grupo de WhatsApp. Não sou difusor daquele compilado de mensagens. O documento não condizia com a verdade. Esse era um documento, [que] foi acertado e enviado para a CCAI. Existe um segundo [arquivo] solicitado pelo MPF. Os dois, no conteúdo e na data, são iguais. Diferem os dois na [parte sobre a] difusão. Esse segundo também foi enviado ao Ministério Público Militar. No período em que passei lá, do dia 1º ao 19, passaram pela minha mão esses dois documentos.”
O presidente da CPI dos Atos Antidemocráticos, Chico Vigilante (PT), considerou a afirmação “muito grave”. “Demonstra que um órgão de Estado fraudou um documento”, ressaltou, em referência à Abin.
Gonçalves Dias era ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República em 8 de janeiro de 2023. Pressionado após a divulgação de imagens que o mostram circular pelo Palácio do Planalto durante as invasões bolsonaristas, ele pediu exoneração.
Em relatos sobre o dia 8, Marco Edson responsabilizou o general Carlos José Assumpção Penteado, integrante do GSI sob a gestão de Augusto Heleno, pela falta de informações precisas sobre os ataques.
“Por volta das 14h, eu estava inquieto e preocupado, pois assistia pela tevê as manifestações, e elas não batiam com o clima de controle que me havia sido descrito. Decidi ligar para o celular general Penteado. Era meu secretário-executivo no GSI, general Carlos José Assumpção Penteado, que havia ocupado o mesmo cargo na gestão do meu antecessor, o Augusto Heleno. O general Penteado me disse que estava ‘tudo normal’, ‘tudo tranquilo’ e que eu não precisava ir ao Palácio do Planalto. Porém, permaneci inquieto. Decidi ir até o Palácio”, afirmou G. Dias.
Em 24 de janeiro, Penteado foi substituído pelo general Ricardo José Nigri, no cargo de secretário-executivo do GSI.
No início da oitiva, o militar leu uma nota de defesa, com destaques para alguns dos pontos que poderiam ser questionados. Ele mencionou, inclusive, que a permanência de um acampamento bolsonarista em frente ao quartel-general do Exército em Brasília após a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) era algo incômodo para todos.
“Permanecia, contudo, a situação embaraçosa dos acampamentos de partidários do ex-presidente [Jair Bolsonaro] diante do Quartel-General do Exército, algo que não deveria ter sido permitido e foi. O governo que assumiu herdou a situação. Ela era incômoda, fosse no governo, fosse no comando das Forças Armadas e das forças de segurança [locais]. Estávamos decididos a pôr fim àqueles acampamentos.”
O ex-ministro do GSI também criticou a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) por não incluir o GSI na reunião de preparação contra os atos golpistas marcados.
“A Secretaria de Segurança Pública do DF fez uma reunião em 6 de janeiro, com diversos órgãos e setores encarregados da segurança e prevenção de distúrbios na Esplanada, e não convidou o GSI para se integrar. Isso é público.”
Sobre o antecessor no GSI, G. Dias declarou: “Não tive, especificamente, contato com o general [Augusto] Heleno. Não houve transição nenhuma. Também não houve transição nenhuma [de informações] sobre o que estava acontecendo em frente ao QG”.
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