Edificação de 147,36 m² afeta APP de dunas e restinga, segundo decisão da Justiça Federal
A Justiça Federal condenou um réu particular a demolir uma casa de veraneio construída sem autorização na Praia da Galheta, em Laguna, na Área de Proteção Ambiental (APA) da Baleia Franca. A sentença foi proferida nesta semana, na terça-feira (9), pela 1ª Vara Federal do município, em uma ação civil pública movida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
De acordo com o processo, a edificação de 147,36 m² afeta uma área de preservação permanente (APP) de dunas e restinga. “A construção e manutenção do imóvel no local, que jamais contou com qualquer autorização dos órgãos ambientais, é suficiente para caracterizar o dano ao meio ambiente, representado especialmente pela alteração das fisionomias dunares, pela interferência no desenvolvimento e regeneração da vegetação nativa e pela ocupação do solo em local de formação de dunas frontais, que servem como limite da praia marítima”, afirmou o juiz Timóteo Rafael Piangers.
Em sua defesa, o réu alegou que não construiu a casa e que o imóvel possuía alvará para regularização concedido pelo município, além de pagar tributos e contar com fornecimento de energia. No entanto, o juiz observou: “Tais fatos, apesar de retirarem eventual má-fé da conduta do possuidor do imóvel, não substituem a autorização dos órgãos ambientais competentes, razão pela qual não afastam a irregularidade ambiental da edificação”.
Segundo Piangers, “se foram autorizadas ocupações em APP ou foram concedidos pareceres favoráveis à manutenção de edificações sobre dunas, tais fatos se deram ao arrepio da lei e não permitem a continuidade da degradação ambiental, principalmente pelo fato de não se tratar de ocupação urbana consolidada”.
A sentença também destacou que não é possível a regularização fundiária urbana de interesse específico (Reurb-E), pois a área em litígio não se enquadra no conceito de núcleo urbano consolidado. “Não há vias de circulação pavimentadas e os únicos equipamentos públicos são alguns postes de iluminação, o que facilita sua reversão e não autoriza o Reurb-E”.
“A invocação, pela parte ré, da proteção ao ser humano, da função social da propriedade, do desenvolvimento econômico sustentável, do direito à educação ambiental e do equilíbrio entre o meio ambiente natural, artificial e cultural, contraria sua própria pretensão de manutenção da edificação em área de preservação permanente e praia marítima, que visa atender exclusivamente seus interesses, em detrimento aos da coletividade”, concluiu o juiz.
A sentença deve ser cumprida após o trânsito em julgado. Cabe recurso ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), em Porto Alegre.