Na manhã desta terça-feira (18), durante audiência da Operação Mensageiro em Lages, o proprietário da Versa Engenharia (antiga Serrana) detalhou um esquema de propina envolvendo agentes públicos. Segundo ele, o montante repassado em troca de favorecimento em licitações de serviços de coleta de lixo em diversas cidades catarinenses, entre 2017 e 2022, totaliza pelo menos R$ 1,9 milhão.

A audiência, que acontece na comarca do município, ouvirá diversos réus envolvidos no esquema. O dono da Serrana revelou que os pagamentos aos secretários municipais eram realizados por meio de um mensageiro, que entregava os valores em dinheiro vivo em pontos de encontro na cidade. Ele afirmou que a propina era paga para que a prefeitura honrasse os pagamentos atrasados de serviços prestados durante a gestão anterior.

Em um ofício encontrado na sala do ex-secretário de Administração de Lages, Antônio Arruda, os investigadores constataram que a prefeitura devia à Serrana R$ 1,3 milhão referente a serviços prestados em 2016. Segundo o documento, datado de 2017, a empresa solicitava o pagamento atrasado.

Durante seu depoimento, o dono da Serrana também mencionou que Antônio Arruda, ex-secretário de Administração de Lages, teria solicitado pagamentos de propina no valor de R$ 50 mil mensais de dezembro de 2019 a dezembro de 2022, totalizando R$ 1,8 milhão. Além disso, Arruda teria pedido R$ 150 mil em outra ocasião.

O ex-secretário de Meio Ambiente de Lages, Eroni Delfes Rodrigues, teria recebido propina no valor de R$ 115 mil, além da promessa de R$ 200 mil caso a empresa vencesse a licitação da iluminação pública.

Outros envolvidos mencionados incluem Jurandi Agostini, então secretário da Semasa (Secretaria Municipal de Água e Saneamento), que teria recebido R$ 75 mil, e Milton José Matias, funcionário da prefeitura, que teria recebido pagamentos mensais de R$ 2 a R$ 2,5 mil como forma de recompensa pelo bom atendimento, segundo o depoente.

O prefeito de Lages, Antônio Ceron, não teria discutido diretamente valores com o proprietário da Serrana, mas há suspeitas de que a propina também fosse repassada a ele.

Os advogados de defesa questionaram o proprietário da Serrana sobre as datas dos supostos pagamentos de propina. No entanto, ele afirmou que não se recorda com precisão das datas e que algumas solicitações podem ter ocorrido em anos anteriores, como 2018 ou 2019.

Nesta terça-feira, além do prefeito Antônio Ceron, os ex-secretários Antônio Arruda e Eroni Delfes prestarão depoimento presencial ao Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC). Os réus falarão após as testemunhas de defesa serem ouvidas na segunda-feira (17). Antônio Ceron foi preso durante a segunda fase da Operação Mensageiro em fevereiro, enquanto Antônio Arruda está em liberdade com uso de tornozeleira eletrônica e Eroni Delfes está preso no 4º BPM em Florianópolis.

Além dos réus, funcionários da Serrana com acordo de delação premiada serão ouvidos por videoconferência. Parte deles será interrogada de uma sala no Fórum de Joinville, enquanto os demais, que estão presos, prestarão depoimento de suas unidades prisionais.

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