O impacto mais significativo seria maior pressão sobre a inflação, especialmente por causa dos preços dos combustíveis. Os principais produtos que o Brasil importa da Rússia são ligados à agricultura, especialmente fertilizantes.
Se a Rússia de fato enviar tropas para a Ucrânia após a autorização de Vladimir Putin para a entrada de militares no país, haverá consequências indiretas para países que não estão envolvidos no conflito, mas que têm parcerias comerciais com os russos ou os ucranianos, apontam especialistas. O Brasil seria afetado principalmente por causa da economia, e o impacto mais significativo seria maior pressão sobre a inflação.
Na segunda-feira (22), o presidente da Rússia, Vladimir Putin, autorizou o envio de militares russos para "manter a paz" nas regiões separatistas da Ucrânia de Donetsk e Luhansk.
O Brasil é secundário na disputa, diz Fernanda Magnotta, senior fellow do núcleo EUA do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).
"No entanto, todos os países se afetam de alguma forma. E, de cara, há efeitos econômicos derivados de um conflito: o abastecimento de gás e uma alta de preço de combustíveis, por exemplo, que afetariam de forma muito significativa países como o nosso, onde o preço de combustíveis já tem sido, nos últimos meses, o responsável por pressão inflacionária", aponta a especialista.
Os principais produtos que o Brasil importa da Rússia são ligados à agricultura, especialmente fertilizantes. Na tabela abaixo, estão os cinco itens que o país mais comprou dos russos em 2021, em valores. Apenas um, hulha betuminosa (um tipo de carvão mineral), não é usado no solo para preparação para o plantio.
Magnotta afirma que o Brasil é muito dependente da Rússia em relação a esses insumos, e uma operação militar na Europa teria efeito direto em relação ao abastecimento de adubo e fertilizantes. "Já há algum desabastecimento em geral na economia por causa da pandemia, e no contexto de guerra isso seria agravado", aponta.
Consequências de política externa
O Brasil pleiteou o apoio dos Estados Unidos para se tornar um membro extra-regional da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). No conflito, o governo russo pede o fim da política expansionista da Otan e que a organização se comprometa a não instalar armas de ataque perto de suas fronteiras.
Caso houvesse um conflito militar, o país seria cobrado pelas potências em relação ao seu posicionamento —ou seja, seria forçado a assumir um lado. "Isso implica tomar decisões em relação a quem desagradar: de um lado o Brasil é parte da aliança ocidental e há a tentativa de se chegar a um acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia já há uma longa data, e do outro, a China tem sinalizado uma aproximação com a Rússia", afirma Magnotta.