Evasão, problema que o país vinha conseguindo reduzir, está crescendo por conta da pandemia. Em algumas redes, a estratégia é ir de casa em casa para tentar manter vínculo dos estudantes com a escola.
Estima-se que mais de 5,5 milhões de crianças e adolescentes tiveram seu direito à educação negado em 2020", diz o relatório Enfrentamento da Cultura do Atraso Escolar, lançado neste ano pela Unicef, braço da Organização das Nações Unidas (ONU) para a infância.
Especialistas e pesquisadores em educação preveem que esses números negativos continuarão a crescer em 2021, colocando em risco décadas de trabalho para reduzir os índices de abandono escolar no Brasil, e com amplos impactos sociais e econômicos que serão sentidos por toda a sociedade.
"As vulnerabilidades socioeconômicas vão se acirrar neste ano, e o desemprego e a pobreza, por si só, já aumentariam a evasão", diz o pesquisador Luiz Cantarelli, do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP) e coautor de estudo que avalia a resposta das redes públicas de ensino à pandemia.
Essas respostas, por sinal, foram tão díspares entre si que contribuirão para aumentar a desigualdade educacional. "Dependendo da rede pública que frequenta, o aluno vai ser atingido por um plano (de aulas) melhor ou pior. E, dentro da mesma sala, pode haver aluno que conseguiu acompanhar melhor que o colega, o que pode ser um agravante para que esse colega decida abandonar a escola, ao sentir que não consegue acompanhar (o ritmo)", completa.
Assim, diz Cantarelli, "a tendência é que o abandono aumente e se arraste por anos", um problema que tende a ser agravado pela queda nos investimentos federais, estaduais e municipais na educação e pela ausência de coordenação nacional por parte do Ministério da Educação dos esforços na área durante a pandemia.
O custo disso é alto — e não se limita aos alunos que ficam pelo caminho. Cada jovem que abandona a escola representa uma perda para o Brasil de R$ 372 mil por ano, segundo um cálculo do economista Ricardo Paes de Barros feito no ano passado, em estudo do Insper com a Fundação Roberto Marinho.
No ano, esse custo total da evasão escolar no país chega a R$ 214 bilhões, cerca de 3% do Produto Interno Bruto (PIB). Isso porque a ausência de educação vai impactar a capacidade produtiva dessas pessoas ao longo de toda sua vida. "Os jovens que têm a educação básica completa passam, em média, mais tempo de sua vida produtiva ocupados e em empregos formais, com maior remuneração; têm maior expectativa de vida com qualidade.
Conforme pesquisas, cada jovem com educação básica viverá quatro anos de vida a mais que um jovem que não terminou a escolaridade — e tendem a ter um menor envolvimento em atividades violentas, como homicídios. É por isso que diretoras como Marília de Jesus Barbosa tem se esforçado mais para manter a qualidade no ensino e evitar a evasão escolar.
"Quando a gente sente falta de um aluno, vai até a casa dele ou corre atrás dele na rua", diz Barbosa sobre a dedicação em manter os estudantes engajados depois de um ano difícil, de escolas fechadas e dificuldade em promover aulas remotas. "Se a gente não for atrás, estará contribuindo para eles se afundarem ainda mais". finaliza a professora.